sábado, 8 de junho de 2013

Águas


Águas
Querido poeta pantaneiro, Manoel de Barros.

Desde o começo dos tempos águas e chão se amam. 
Eles se entram amorosamente 
E se fecundam. 
Nascem formas rudimentares de seres e de plantas 
Filhos dessa fecundação. 
Nascem peixes para habitar os rios 
E nascem pássaros para habitar as árvores. 
Águas ainda ajudam na formação das conchas e dos 
caranguejos. 
As águas são a epifania da Natureza. 
Agora penso nas águas do Pantanal 
Nos nossos rios infantis 
Que ainda procuram declives para correr. 
Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas 
para o alvoroço dos pássaros. 
Prezo os espraiados destas águas com as suas 
beijadas garças. 
Nossos rios precisam de idade ainda para formar 
os seus barrancos 
Para pousar em seus leitos. 
Penso com humildade que fui convidado para o 
banquete destas águas. 
Porque sou de bugre. 
Porque sou de brejo. 
Acho que as águas iniciam os pássaros 
Acho que as águas iniciam as árvores e os peixes 
E acho que as águas iniciam os homens. 
Nos iniciam. 
E nos alimentam e nos dessedentam. 
Louvo esta fonte de todos os seres, de todas as 
plantas, de todas as pedras. 
Louvo as natências do homem do Pantanal. 
Todos somos devedores destas águas. 
Somos todos começos de brejos e de rãs. 
E a fala dos nossos vaqueiros carrega murmúrios 
destas águas. 
Parece que a fala de nossos vaqueiros tem consoantes 
líquidas 
E carrega de umidez as suas palavras. 
Penso que os homens deste lugar 
são a continuação destas águas.

Grupo Tayassu

Nosso grupo recebeu nome de Tayassu, palavra oriunda do tupi “tai wa’su”, que significa dente grande. Nome de gênero a qual pertence o cateto (Tayassu tajacu) e o queixada (Tayassu pecari), mamíferos simpátricos encontrados ao longo na América do Sul. São bastante semelhantes morfologicamente, podendo diferenciá-los devido ao colar de pelos brancos ao redor do pescoço do cateto, enquanto queixada possui faixa branca no queixo. A queixada é relativamente maior que o cateto, sendo esse também mais agressivo, inclusive é considerado o mais perigoso entre os taiassuídeos. Ambos possuem pelagem longa e áspera, com tonalidade de cinza mesclada com preto. São generalistas e oportunistas, se alimentando de frutas, tubérculos, sementes, folhas, eventualmente larvas, insetos e anfíbios. 
Queixada, pode-se ver seu queixo branco
Cateto, observa-se seu colar branco

Nosso grupo era composto por cinco integrantes, sendo que um deles, Alessandro, é estudante do 5º ano de Ecologia, enquanto que o restante, Cezar, Nathália, Jamile, Luandra e Sara, são do 3º. O grupo era bastante heterogêneo, do sentido de cada um ter diferentes interesses, que por fim acabavam se complementando. Tivemos o privilégio que avistar dois bandos de catetos atravessando a transpantaneira, compostos aproximadamente por 6 indivíduos, entre adultos e filhotes.

Grupo Tayassu. (esquerda-direita: Alessandro, Cezar (Pardal), Luandra, Sara, Natália, Carlinhos, Jamile)



Depoimento da Sara

Pantanal é terra de exageros, tudo é imensidão, horizonte, magia. Por três anos esperamos ansiosamente por esse campo, e chegando lá, logo percebemos o porquê. Somos inundados por vida, que nos envolve em todas as esferas. Palavras tornam-se vazias numa tentativa de descrever. Porém, é terra também de contrastes. Em meio á tanta exuberância e riqueza, mora um povo humilde e simples, que com sabedoria leva uma vida que supre suas necessidades, criando um vínculo com o meio capaz de promover sua própria conservação. Sua cultura é rica, seus conhecimentos vastos. Esta região vem sofrendo cada vez mais como vítima da expansão de fronteiras agrícolas e pecuárias, nela causando ampla devastação. Dessa forma, o pantanal, abrigo pra diversas espécies e povos, alguns a beira de extinção, está sendo ameaçado gradativamente.
Arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus). Especie ameaçada de extinção


Durante toda a excursão fui sensibilizada com esses pensamentos. Vemos que o Pantanal não recebe a atenção devida. Numa visita que fizemos ao Parque Nacional da Serra da Bodoquena, sentimos isso na pele. Ao longo das trilhas, paisagens maravilhosas e peculiares, numa mistura entre cerrado, mata atlântica e caatinga.  Ao seu redor, infinitas fazendas, sufocando a biodiversidade, inclusive as comunidades indígenas ali instaladas. Uma alternativa para a população que vive na região é investir no turismo, muitos abrem pequenos negócios e pousadas, ou trabalham em agências maiores, gerenciadas em geral por estrangeiros. Só tivemos um contato com turismo no último dia (além dos jeeps de safári que passavam por nós nas estradas) em que visitamos a Fazenda São Francisco, especializada em agroecoturismo, sendo ela também proprietária de criação de gado.  Aqui tivemos a oportunidade de ver a lucratividade desse eixo, e vivenciar algo até então inédito: a naufrágio da chalana.
"Bela Serra de Maracaju
Seus mistérios quero traduzir
Descobrir as lendas e memórias
De cada légua que te percorri"
Almir Sater

Por fim gostaria de expressar aqui minha opinião a respeito do campo. Como muitos sabem, é sempre uma incógnita se o ano que vem terá ou não o famoso “Campo do Pantanal”.  Fico muito grata se ter tido a oportunidade de vivenciar tudo o que esse campo me proporcionou. Creio que ele é de extrema importância para nós, como futuros ecólogos, não só como alunos da disciplina de ecologia de populações. Através dele temos novas percepções e prévias de como será nossa vida/missão como profissionais. Mas ele nos acrescenta não só como profissionais, mas como pessoas também, nos tornamos mais unidos, mais sensíveis, pacientes... Enfim, desejo a todas as turmas seguintes a mesma experiência que tive.
Formação dente de cão no Parna Serra da Bodoquena

Vegetação encontrada associada á formação dente de cão, caracterizada por bromélias terrestres, cactus e pequenas árvores retorcidas. 

Cena do titanic pantaneiro

Turma em terra firme


Reminiscências subjetivas

O que faz o Pantanal
São as cores vibrantes do céu e das aves,
Das flores, dos amplos campos abertos
São as curvas sinuosas dos Ipês e as folhas espalmadas dos Carandás
São todas essas imagens se duplicando em beleza 
no reflexo das águas dos grandes corixos.

O Pantanal é  a terra vermelha,
é o povo e seus costumes,
e poeira, música, dança sob luar e fogueira;
são sabores novos, comida pantaneira.

Mas é também a voz da nossa espécie calada
para ouvir com atenção 
a voz das espécies aladas  
e a voz das cachoeiras, seixos rolados
e de toda a vida que há ao redor.

O Pantanal é contemplativo
e é um exercício para os sentidos
olhos, dedos, línguas, narizes e ouvidos 
sentem intensamente todo o pantanal.

E por isso e muito outros aquilos,
para saber o real valor dessas terras
não basta dizer o Pantanal, 
não basta mostrá-lo
É preciso vivê-lo, 
senti-lo na pele.

Pois o Pantanal é o paradoxo amável
de um tal complexo sentido 
de ser tudo isso que foi escrito,
e ser sempre mais inefável.


Nathalia Bonani


Rio Salobra - Serra da Bodoquena



Pernilongos, muitos pernilongos....


E sem contar as nuvens de pernilongo...haja repelente...


Form dois dias em que parar por dois segundos para beber água, era pedir para ter seu sangue sugado...que o diga o Fernando, vulgo Pantoja (monitor)!

Pantanal...lugar surpreendente!



O Pantanal...lugar surpreendente... 
Todos os dias, depois de duas ou três horas de ônibus, caminhar com o sol na cabeça, numa estrada que parece não ter fim... Desanimador? Que nada! 
Como disse Jean Jacques Rosseau: “Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.” Nesses nove dias, o mundo mostrou-se de outra forma, com mais sentido, mais vida. Na estrada silenciosa, exceto pelos caminhões que passavam, fazendo-nos comer poeira(rs)...Que melhor local para uma reflexão? 



E a cada passo, cada gota d’água, cada lata de seleta.rs. Duas viagens: uma externa, visível, e outra interna, de descobrir um maior sentido pra vida, de encher os olhos com tanta beleza.
Nesse caminho, tantos pássaros, tantas cores, tantos sons, tanta vida!
Como sermos os mesmos depois de um espetáculo se abrindo aos nossos olhos?



"moreninha linda do meu bem querer, é triste a saudade longe de você"
"galopeeeeeeeeeeeeeeiiiiiraaaaaaaa...nunca mais te esquecereeeeiiii"
hahahaha...esse povo sabe dançar hein...muuuuito bommmmm, noite inesquecível!!!
Professor Fowler dançando polca paraguaia!


   Ehhhh beleza...comida boa, musica boa, amigos, uma noite linda, uma lua enooorme...tudo pra fechar com chave de ouro!!! Gratidão ao nosso professor Fowler, aos monitores e ao pessoal do hotel!!!

Avifauna

      Desde pequeno sempre fui muito interessado na natureza, adorava tentar entender seus diferentes processos e sempre me surpreendia  com as diferentes espécies. Apesar de tudo sempre tive um foco maior para Ornitologia, adorava ver espécies novas e as que eu já havia visto sempre contemplava o maximo que podia.
       No Pantanal a possibilidade de observar inumeras espécies, em grande abundancia, de diferentes familías e cores, foi algo indescritivel, tão extraordinario que da minh parte não tirei nenhuma fotográfia só observava ao maximo as aves guardando as imagens na memória, por isso, as imagens a seguir são de colegas de grupo!
                                                                                                Cezar Gonçalves Inácio


                                                                                            Paroaria capitata (Cavalaria)
                                                                                    Anhinga anhinga (Biguatinga)
                                                                         Theristicus caerulescens (Maçarico Real)
                                                                               Busarellus nigricollis (Gavião Belo)
                                                                                      Urubitinga urubitinga (Gaviã Preto)
                                                                                          Ardea cocoi (Garça Moura)
                                                                                            Icterus croconotus (João Pinto)
                                                                                       Cathartes aura (Urubu de Cabeça Vermelha)                                                                                  
                                                                                       Jabiru mycteria (Tuiuiú)
                                                                                              Aratinga aurea (Periquito Rei)
                                                                                               Aratinga nenday (Principe Negro)
                                                                     Phalacrocorax brasilianus (Biguá)
                                                                                                              Fotos por: Sara Marques

Depoimento: Cezar (Pardal)

Uma vez em um congresso de zoologia eu ouvi o depoimento de um ministrante de mini-curso, ele também era consultor, e disse o seguinte: “Se as empresas que nos pagam pela consultoria soubessem que eu faria isso com o maior prazer do mundo e de graça elas não me pagariam o que elas pagam para fazê-lo hahaha”. É ai que eu paro para pensar, como pode um cientista ser totalmente imparcial em seus artigos e publicações sendo que ele trabalha muitas vezes com o que ama?
Brasil, Mato Grosso do Sul, Aquidauana, Pioneiro, foi o inicio de uma grande viagem de campo tinha muitas coisas como outra qualquer, métodos a serem aplicados, cadernetas a sem feitas e entregues para serem avaliadas, horários a serem cumpridos, poucas horas de sono, e caminhada muita caminhada. Mas ela não foi uma viagem ordinária foi surpreendente em meio a procedimentos que pareciam naturais para nós e que muitas vezes eram executados sem reflexão muitas vezes subjetivamente eram postas situações nas quais podíamos refletir sobre o que estávamos fazendo e como, simplesmente fazer por fazer? Era algo que nos foi ensinado durante boa parte da viagem, em momentos como o questionário no inicio do campo, nas quais nenhuma das perguntas era direta, todas nos faziam pensar nem que fosse um pouco, ou em momentos como os documentários sobre pinguins no ônibus, aliado ao antigo incidente do raro Spheniscus pantanensis vulgo Pinguim do Pantanal hahahaha. Mas o melhor é que nada era óbvio, tudo foi deixado para que nós pudéssemos pensar e refletir da maneira que cada um quisesse trazendo, em minha opinião, um grande aprendizado.
No quesito natureza não tem nem o que reclamar, nunca vi tantas espécies em um curto espaço de tempo, e paisagens magníficas como a Bodoquena, o rio Paraguai, o maciço do Urucum e uma mistura de paisagens alagadas com cerrado e trechos de mata, a quantidade de aves avistadas e seus diferentes formatos e cores era de deixar qualquer ornitólogo com inveja, para mim a possibilidade de ver muitas espécies só observadas por mim atrás de grades de zoológicos, ou na tela da TV em documentários ou mesmo em sites de avifauna, foi indescritível, os mais marcantes para mim foram ambos Busarellus nigricollis (Gavião Belo) e Urubitinga urubitinga (Gavião Belo).
Também ouve um grande aprendizado na parte acadêmica, adquirido por nós; muitos dos meus companheiros de campo me disseram: “Quando vim para o campo mal sabia identificar um Sabiá, agora já sei inúmeros nomes científicos e como procurar aves no guia de campo”. Sem contar a evolução exponencial na nossa maneira de organizar os dados do campo na caderneta, a maneira que foi feita, ajudava muito no aprendizado de forma que a cada dia e a cada caderneta íamos evoluindo em um quesito diferente na tentativa de organizar nossos dados o melhor possível.
E por fim os momentos de descontração e as grandes amizades feitas naquela semana que para a minha pessoa jamais serão esquecidos, até as partes onde tudo parecia ter dado errado como o incidente da chalana, onde mesmo após todo o ocorrido ainda podia se ver sorriso no rosto de muitos e tudo no final virou uma grande piada.  Por fim, em minha opinião, a viagem de campo para o Pantanal com ecologia de populações é algo que todo ecólogo deveria passar!
Cezar Gonçalves Inácio



Depoimento: Luandra (Magal)

Deixou saudades...

Acordar cedo (beeeem cedo), comer rapidinho, passar calor com uma montanha de roupas só pra se proteger dos milhares de pernilongos que faziam a festa com a nossa presença...andar quilômetros e rezar para que na estrada apareça um bar, assim do nada e tenha cerveja gelada a sua espera...é galera, isso tudo fez parte de uma das melhores semanas de nossas vidas.
Coisas como essas mais o cansaço se tornaram pequenas perto da majestosa beleza natural do Pantanal sul matogrossense.
Acordar cedo e ver aquele cé azul, sentir aquele ar fresquinho e gostoso mais um copo de café, hummm foi um prazer imensurável...andar quilômetros e quilômetros e ver as paisagens encantadoras e diferentes das do nosso dia a dia e os animais, muitas aves, muuuitas aves, lindas, coloridas, diferentes, de todo os jeitos, era só olhar pra cima (mesmo que a vontade fosse olhar pra frente, vai que uma onça passasse né)...tudo isso te dava força e vontade de caminhar mais, e claro sempre surgia aquele bar esperto com aquela breja gelaada, e lógico que isso só acontecia na presença do nosso querido monitor Pantoja...rsrsrsrs
O Pantanal foi muito mais que uma excursão universitária , foi sentimento, novas sensações, união, alegrias, emoções a flor da pele e principalmente saudade...muita saudade.
Esse blog foi criado para matar um pouquinho  dessa saudade e mostrar para o mundo o pantanal do Mato Grosso do Sul aos nossos olhos, lindo de viver!!!



Luandra Danielle Marostica
Passando os dados do dia para as planilhas

Salvos pela cerveja gelada no meio do percurso

Ponto fixo na estrada. Alessandre mimetiza mulçumanos para se abrigar contra mosquitos.