Tayassu
O grupo Tayassu, formado durante uma experiência de nove dias no Pantanal Sul Matogrossense é composto por Alessandro Rocha, Cezar Inácio, Jamile Pereira, Luandra Maróstica, Nathalia Bonani e Sara Marques. Aqui há relatos das experiências vividas e sentidas nesse período.
sábado, 8 de junho de 2013
Águas
Águas
Querido poeta pantaneiro, Manoel de Barros.
Desde o começo dos tempos águas e chão se amam.
Eles se entram amorosamente
E se fecundam.
Nascem formas rudimentares de seres e de plantas
Filhos dessa fecundação.
Nascem peixes para habitar os rios
E nascem pássaros para habitar as árvores.
Águas ainda ajudam na formação das conchas e dos
caranguejos.
As águas são a epifania da Natureza.
Agora penso nas águas do Pantanal
Nos nossos rios infantis
Que ainda procuram declives para correr.
Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas
para o alvoroço dos pássaros.
Prezo os espraiados destas águas com as suas
beijadas garças.
Nossos rios precisam de idade ainda para formar
os seus barrancos
Para pousar em seus leitos.
Penso com humildade que fui convidado para o
banquete destas águas.
Porque sou de bugre.
Porque sou de brejo.
Acho que as águas iniciam os pássaros
Acho que as águas iniciam as árvores e os peixes
E acho que as águas iniciam os homens.
Nos iniciam.
E nos alimentam e nos dessedentam.
Louvo esta fonte de todos os seres, de todas as
plantas, de todas as pedras.
Louvo as natências do homem do Pantanal.
Todos somos devedores destas águas.
Somos todos começos de brejos e de rãs.
E a fala dos nossos vaqueiros carrega murmúrios
destas águas.
Parece que a fala de nossos vaqueiros tem consoantes
líquidas
E carrega de umidez as suas palavras.
Penso que os homens deste lugar
são a continuação destas águas.
Grupo Tayassu
Nosso grupo recebeu nome de Tayassu, palavra oriunda do tupi “tai wa’su”, que significa dente grande. Nome de gênero a qual pertence o cateto (Tayassu tajacu) e o queixada (Tayassu pecari), mamíferos simpátricos encontrados ao longo na América do Sul. São bastante semelhantes morfologicamente, podendo diferenciá-los devido ao colar de pelos brancos ao redor do pescoço do cateto, enquanto queixada possui faixa branca no queixo. A queixada é relativamente maior que o cateto, sendo esse também mais agressivo, inclusive é considerado o mais perigoso entre os taiassuídeos. Ambos possuem pelagem longa e áspera, com tonalidade de cinza mesclada com preto. São generalistas e oportunistas, se alimentando de frutas, tubérculos, sementes, folhas, eventualmente larvas, insetos e anfíbios.
Nosso grupo era composto por cinco integrantes, sendo que um deles, Alessandro, é estudante do 5º ano de Ecologia, enquanto que o restante, Cezar, Nathália, Jamile, Luandra e Sara, são do 3º. O grupo era bastante heterogêneo, do sentido de cada um ter diferentes interesses, que por fim acabavam se complementando. Tivemos o privilégio que avistar dois bandos de catetos atravessando a transpantaneira, compostos aproximadamente por 6 indivíduos, entre adultos e filhotes.
Queixada, pode-se ver seu queixo branco |
Cateto, observa-se seu colar branco
Nosso grupo era composto por cinco integrantes, sendo que um deles, Alessandro, é estudante do 5º ano de Ecologia, enquanto que o restante, Cezar, Nathália, Jamile, Luandra e Sara, são do 3º. O grupo era bastante heterogêneo, do sentido de cada um ter diferentes interesses, que por fim acabavam se complementando. Tivemos o privilégio que avistar dois bandos de catetos atravessando a transpantaneira, compostos aproximadamente por 6 indivíduos, entre adultos e filhotes.
Grupo Tayassu. (esquerda-direita: Alessandro, Cezar (Pardal), Luandra, Sara, Natália, Carlinhos, Jamile) |
Depoimento da Sara
Pantanal é terra de exageros,
tudo é imensidão, horizonte, magia. Por três anos esperamos ansiosamente por esse
campo, e chegando lá, logo percebemos o porquê. Somos inundados por vida, que
nos envolve em todas as esferas. Palavras tornam-se vazias numa tentativa de
descrever. Porém, é terra também de contrastes. Em meio á tanta exuberância e
riqueza, mora um povo humilde e simples, que com sabedoria leva uma vida que
supre suas necessidades, criando um vínculo com o meio capaz de promover sua
própria conservação. Sua cultura é rica, seus conhecimentos vastos. Esta região
vem sofrendo cada vez mais como vítima da expansão de fronteiras agrícolas e
pecuárias, nela causando ampla devastação. Dessa forma, o pantanal, abrigo pra
diversas espécies e povos, alguns a beira de extinção, está sendo ameaçado gradativamente.
Arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus). Especie ameaçada de extinção |
Durante toda a excursão fui sensibilizada
com esses pensamentos. Vemos que o Pantanal não recebe a atenção devida. Numa
visita que fizemos ao Parque Nacional da Serra da Bodoquena, sentimos isso na
pele. Ao longo das trilhas, paisagens maravilhosas e peculiares, numa mistura
entre cerrado, mata atlântica e caatinga. Ao seu redor, infinitas fazendas, sufocando a
biodiversidade, inclusive as comunidades indígenas ali instaladas. Uma
alternativa para a população que vive na região é investir no turismo, muitos
abrem pequenos negócios e pousadas, ou trabalham em agências maiores,
gerenciadas em geral por estrangeiros. Só tivemos um contato com turismo no
último dia (além dos jeeps de safári que passavam por nós nas estradas) em que
visitamos a Fazenda São Francisco, especializada em agroecoturismo, sendo ela
também proprietária de criação de gado. Aqui tivemos a oportunidade de ver a
lucratividade desse eixo, e vivenciar algo até então inédito: a naufrágio da
chalana.
"Bela Serra de Maracaju Seus mistérios quero traduzir Descobrir as lendas e memórias De cada légua que te percorri" Almir Sater |
Por fim gostaria de expressar
aqui minha opinião a respeito do campo. Como muitos sabem, é sempre uma
incógnita se o ano que vem terá ou não o famoso “Campo do Pantanal”. Fico muito grata se ter tido a oportunidade de
vivenciar tudo o que esse campo me proporcionou. Creio que ele é de extrema
importância para nós, como futuros ecólogos, não só como alunos da disciplina
de ecologia de populações. Através dele temos novas percepções e prévias de
como será nossa vida/missão como profissionais. Mas ele nos acrescenta não só
como profissionais, mas como pessoas também, nos tornamos mais unidos, mais
sensíveis, pacientes... Enfim, desejo a todas as turmas seguintes a mesma experiência
que tive.
Formação dente de cão no Parna Serra da Bodoquena
Vegetação encontrada associada á formação dente de cão, caracterizada por bromélias terrestres, cactus e pequenas árvores retorcidas.
Cena do titanic pantaneiro
Turma em terra firme
Reminiscências subjetivas
O que faz o Pantanal
São as cores vibrantes do céu e das aves,
Das flores, dos amplos campos abertos
São as curvas sinuosas dos Ipês e as folhas espalmadas dos Carandás
São todas essas imagens se duplicando em beleza
no reflexo das águas dos grandes corixos.
O Pantanal é a terra vermelha,
é o povo e seus costumes,
e poeira, música, dança sob luar e fogueira;
são sabores novos, comida pantaneira.
Mas é também a voz da nossa espécie calada
para ouvir com atenção
a voz das espécies aladas
e a voz das cachoeiras, seixos rolados
e de toda a vida que há ao redor.
O Pantanal é contemplativo
e é um exercício para os sentidos
olhos, dedos, línguas, narizes e ouvidos
sentem intensamente todo o pantanal.
E por isso e muito outros aquilos,
para saber o real valor dessas terras
não basta dizer o Pantanal,
não basta mostrá-lo
É preciso vivê-lo,
senti-lo na pele.
Pois o Pantanal é o paradoxo amável
de um tal complexo sentido
de ser tudo isso que foi escrito,
e ser sempre mais inefável.
Nathalia Bonani
São as cores vibrantes do céu e das aves,
Das flores, dos amplos campos abertos
São as curvas sinuosas dos Ipês e as folhas espalmadas dos Carandás
São todas essas imagens se duplicando em beleza
no reflexo das águas dos grandes corixos.
O Pantanal é a terra vermelha,
é o povo e seus costumes,
e poeira, música, dança sob luar e fogueira;
são sabores novos, comida pantaneira.
Mas é também a voz da nossa espécie calada
para ouvir com atenção
a voz das espécies aladas
e a voz das cachoeiras, seixos rolados
e de toda a vida que há ao redor.
O Pantanal é contemplativo
e é um exercício para os sentidos
olhos, dedos, línguas, narizes e ouvidos
sentem intensamente todo o pantanal.
E por isso e muito outros aquilos,
para saber o real valor dessas terras
não basta dizer o Pantanal,
não basta mostrá-lo
É preciso vivê-lo,
senti-lo na pele.
Pois o Pantanal é o paradoxo amável
de um tal complexo sentido
de ser tudo isso que foi escrito,
e ser sempre mais inefável.
Nathalia Bonani
Rio Salobra - Serra da Bodoquena
Pernilongos, muitos pernilongos....
E sem contar as nuvens
de pernilongo...haja repelente...
Form dois dias em que
parar por dois segundos para beber água, era pedir para ter seu sangue sugado...que o diga o Fernando, vulgo Pantoja (monitor)!
Pantanal...lugar surpreendente!
O Pantanal...lugar surpreendente...
Todos os dias, depois de duas ou três
horas de ônibus, caminhar com o sol na cabeça, numa estrada que parece não ter
fim... Desanimador? Que nada!
Como disse Jean Jacques Rosseau: “Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da
caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que
mais me agrada.” Nesses nove dias, o mundo mostrou-se de outra forma, com mais
sentido, mais vida. Na estrada silenciosa, exceto pelos caminhões que passavam,
fazendo-nos comer poeira(rs)...Que melhor local para uma reflexão?
E a cada
passo, cada gota d’água, cada lata de seleta.rs. Duas viagens: uma externa,
visível, e outra interna, de descobrir um maior sentido pra vida, de encher os
olhos com tanta beleza.
Nesse caminho, tantos pássaros,
tantas cores, tantos sons, tanta vida!
Como sermos os mesmos
depois de um espetáculo se abrindo aos nossos olhos?
Assinar:
Postagens (Atom)